quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sobre ser




Ela estudava de manhã e saia correndo pro trabalho 13:00 hs, vendedora cursando ensino superior, talvez 23 mas podia ser mais, decidiu não ter filhos, pelo menos não antes de se estabilizar, decidiu não ter relacionamentos sérios porque achava que precisava de espaço, estava criando projetos, conhecendo pessoas legais, crescendo. Frequentava baladas de sábado, vida noturna vibrante pra relaxar, teatro, cinema, shows nos fins de semana quando tinha uma graninha extra, era como queria ser, vez ou outra alguém, sexo e um pouco de carinho. Numa noite como outras voltando sozinha pra casa cansada depois de mais um dia, um carro a segue pela calçada. Levam embora sonhos, destroçam ideais, espancam a coragem e matam, sem perceber, a garota que há em cada uma de nós. 

Guerreiras.

do dia 29/11/11

sábado, 24 de setembro de 2011

De sábado


Não havia plano algum pra sábado a noite, eu queria mesmo ficar em casa vendo filmes até o sono chegar.
Mas fui lá ver oque acontecia, nada novo, mesmas caras, mesmos sonâmbulos, medianos, medíocres cheirando a a noite, pessoas sem sabor na beira dos meus olhos míopes.
Quero ficar lá fora, respirar.
Quero ir pra casa.
Pessoas amargas fazendo papel de boas.
Deixa, é só sábado de noite, pessoas saem pra beber, esquecer, celebrar, dançar, encontrar alguém...
Deixa, é só sábado de noite, não vejo nada além de pinturas mal feitas de um pintor que gosta de fazer piada com tudo.
É só sábado a noite, que as portas se abram, que as pernas se ergam, que evacuem, que soltem, que percam a virgindade, a vergonha, a delicadeza, a inteligência, a arte, que percam tudo que poderiam por acaso ou não ter, que não implorem por beijos, que não peçam amor, que julguem pelo corpo, que sorriam mesmo sem um motivo aparente.
É sábado de noite, fodam-se entre si com mijos em jatos fortes, mergulhem suas cabeças de cabelos bonitos na merda sem perder a pose.
Todos fodem com tudo, fodam-se alegremente.
Porque é sábado de noite?


21.02.11

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Do começo do fim



Esta talvez seja a hora certa pra te dizer:

Você nunca foi nada além de uma visão.



(Foto: Jornada fotográfica no Parque do Carmo, cerejeiras com cel.)

sábado, 26 de março de 2011

Peso y ligereza


Me desarmo, desprendo, solto os punhos e os pés, era pra me sentir melhor quando fiz isso mas é estranho, continuo sentido a prisão como uma sombra que se arrasta ao meu lado, falta a certeza da não-queda e fico bambiando na corda, a sensação de estar livre me parece a mais aterradora de todas, liberdade é uma roupa que nunca é do tamanho certo.
Era pra estar feliz, era pra sorrir e cantar e amar as cores dos meus olhos no espelho mas só vejo sujeira, sangue coagulado, cicatrizes de quando eu achava que alguém ou alguma coisa poderia me salvar ou suprir, sim sou uma fodida na vida.
Fodam-se os melhores alunos, as populares, as sempre charmosas e bem maquiadas, fodam-se, não me interesso por perfeição, não sei ser outra coisa, estou morrendo e tenho uma coisa pra contar, vocês também estão.
 Deixem que eu sinta dor. Sempre com cadernos de páginas fechadas de textos escritos nos intervalos das aulas enquanto todos eram sociáveis e dispostos. Eu queria o silencio, a música, queria acreditar que o que eu era na verdade era belo. Saí do casulo, voei e fui ver com meus sentidos ligados no máximo como poderia ser longe da casa protetora que criei.
Eu sou o extremo, não sei disfarçar, não sei ficar 'apenas' triste, eu me jogo contra tudo sem me preocupar com a queda, leiam as entrelinhas. Eu entro em transe na fila do mercado, eu penso nos glóbulos brancos circulando nas minhas veias enquanto espero pela pipoca no cinema, eu me vejo cair da janela do meu quarto numa queda lenta (como nos filmes) enquanto paro nela desconectada. Tenho necessidade de sentir, é algo maior, vai além desses artifícios, como pra me atestar que ainda ando solta sobre a terra, ainda tenho um tempo que não sei o tamanho, não sei o quanto isso é bom, nunca quis estar aqui por mais tempo.
Às vezes posso sentir o vento no rosto, fecho os olhos, só eu me sinto assim perdida? Só eu desejo o mar ou a janela quase todo dia? Só eu vejo nas gôndolas do supermercado motivos pra nunca mais querer entrar ali? Só eu vejo pessoas evitando dor com medo de não serem perdoadas por um deus que só quis seu bem embora tenha te deixado passar por coisas surreais quando ainda aprendia a escrever?
Depois de algum tempo se aprende sobre companhia (a minha ainda é a melhor pra mim)...  
Escrevo porque essa é a forma de expressão primeira que encontrei, escrevo mal, sem sentido, escrevo lembrando, não me envergonho nem do vômito, nem do sangue que sai e vai se espalhando praguento, fétido, mórbido.

(de 04.02.11)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Rainhas


Nas linhas finas abertas no espaço por um raio claro que eu não sei o nome, há uma garota dançando com seus cabelos soltos
e ela é a rainha do baile sem coroa
sem parceiro
sem cintura de pilão
sem pele perfeita
e ela é tão linda que meu coração salta do peito
porque todas as outras se parecem entre si mas ela, essa menina sem nome
não se assemelha a nenhuma outra
com simples sapatos
ela voa por essa incandescente estrada vazia
e é absolutamente inteira
depois que descobriu que não precisaria mais da aprovação do outro.


(Na foto minha irmã)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sede


Chuva. No deserto dentro seco, nada dói mais do que esta chuva caindo como uma lembrança de algo antigo que não se espera.


(Escrito no dia 06.03.09)

Na próxima


Sexta anoite, eu quis te contar, surtei, atirei longe o que estava nas minhas mãos, enlouqueci, gritei, xinguei palavrões, quis me machucar até começar a sentir meu corpo de volta.
Eu quis falar do tremor no sábado de noite, não conseguia pensar nem responder perguntas simples, não conseguia piscar.
Eu quis te contar do domingo, calor, acordei de manhã e sai com meu irmão, o meu silencio do lado dele e eu ouvindo o silencio dele como dois cúmplices que não precisavam pedir perdão por absolutamente nada, não foram necessárias palavras, nossos pecados são semelhantes.
Eu quis te contar do dia de hoje.
Você tinha tantas novidades.
Eu queria te escutar mas minha cabeça doía.
Não nos escutamos por entre a dura parede que se ergueu na nossa frente.
Cada um seguiu com seus pensamentos.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sur le podium


Da periferia para o centro de São Paulo, trem me levando metro me trazendo. 
As sete vidas dos gatos me seriam úteis numa noite dessas com amargurados pensamentos e nada nas mãos. 
É mais uma noite brilhante onde eleva-se todo teor...

(foto arq. pessoal)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Por um ato

Estava tudo silencioso na casa mas alguém quebrou a criança,
alguém partiu ela em pedaços
e nada vai fazer com que esses pedaços
voltem a formar algo que havia antes.
Lá fora, a chuva ameaça pouco, ela procura por uma dor maior
porque sabe que pode suportar
porque já sentiu tanto que achava que não aguentaria
e aguentou firme
todos os aniversários
todos os natais em familia celebrando coisas felizes
e em sua cabeça nada fazia sentido
diante do espelho vendo tudo mudar
vendo os anos passarem como uma avalanche
que acaba com possibilidades
mas não é a avalanche que acaba com tudo
e sim suas lembranças frias, sua parte criança
defeito por nascer menina,
pré disposta a todo tipo de ato do próximo.
Ela sabe que pode falar tudo quando quiser
ela pode acabar com toda graça
mas não faz por opção,
omitindo e se transformando numa estranha
porque ninguém olha pra dentro, antes, sempre pra fora.
As dores que inventa quando sai de casa são como flores
que nunca ganhou,
permitem que ela sinta seu corpo como algo que existe
com força, com tanta força que se esconde depois que passa
pra que ela possa voltar a ser uma menina como outras por ai sem identidade,
e leva consigo além de marcas, seu olhar vazio e perdido
que sabe disfarçar bem com maquiagem barata
e umas palavras pra mais tarde sozinha na cozinha da sua casa grande
triste e fria.
Estava tudo em silencio mas alguém quebrou a criança. Jamais foi alguém por um ato.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Dor e fome


De manhã, chuva fina, vou até lá, andando como uma senhora que tem dificuldades, devagar, volto pra casa, tomo o remédio, desce amargo, deito e finalmente durmo. A dor passou sem que eu pudesse notar.
As dores se foram.
E dentro do meu quarto, no meio do meu edredon, penso em tudo, eu aceito minha parcela.
Deveria voltar e ser como antes, silêncio, portas fechadas, medo de todos que estão do lado de fora sem um motivo aparente, vontade de acabar logo.
Não. Não sei como deveria ser.
Por divertimento ferem. Por divertimento não olham o tamanho do estrago, não ouvem.
Não sei ser clara quando devo.
Fome de algo.


(Tela em andamento do meu tio Jaime, artista plástico, professor universitário, aposentado, torcedor do Esporte Clube do Recife, Pernambucano e piadista nas horas vagas.)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

You do not fit

Você não combina com as paredes do meu quarto,
ou com os colchões da cama.
Você não vai até a rua de camisa de algodão e me manda beijos,
você nem deve existir
porque eu nunca vejo seus olhos
nem sei que cor tem
nem sei porque você está longe
não sei porque ainda vejo em você algo melhor
que parece ser melhor todas as horas.
Você não é o melhor, porque eu sei disso?
Porque você respira.
Você respira?
Odeio seu cabelo bagunçado, sua cara pálida, sua roupa gasta, seu modo de me ignorar.
E não sei porque acho ainda um monte de coisas que gostaria de partilhar com você numa tarde qualquer de domingo.


(foto arq. pessoal.)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Caminho



Volto pra casa às 7 da noite sozinha no metro lotado, um menino de camisa branca me olha as vezes, parece procurar de relance na minha figura algo que ainda não tenha visto nas outras pessoas, fecho o livro, fecho os olhos, fecho-me ostra e concha, sinto o vento fresco entrar pela janela como um tufão e vindo bater no meu rosto, meu rosto parece mais suave com essa força, e o silêncio aumenta por causa do som do vento, do som da vida que insiste em manter meus órgãos funcionando, meu músculo cretino batendo, minhas veias palpitando envelhecendo comigo triste, e caminhando no chão de chuva e deixando esse cheiro de terra e folhas verdes entrar pelo nariz, só desejo silêncio pra parir o calor.
Olhei o tempo, e pareceu que realmente vi, horizonte rasgado. 
E de fato chegar em casa.



(Do dia 30.11.10. E todo aquele negócio de sempre...)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Toca Blondie e me esquece

Um diálogo comigo mesma me lembra das loucuras em Ópium, uma louca. Apaguei oque escrevi antes, era muito pesado, não seria apropriado, mas seria comum pra mim numa sexta calorenta afogando o tédio em litros de cervejas geladas, fazia tempo que não via a chuva caindo, mas dei só uma olhada de leve, nem parei por muito tempo, ando sem tempo pra coisas do tipo, quero oque não se espalha, oque não consegue estar, odeio você atingindo as desculpas mais bonitas sem minha mão pra segurar a tua, odeio você longe dos meus olhos verdes de bosta correndo da chuva. Mas não te odeio mais do que a mim quando disse que voltaria, eu nunca voltaria! Demoro pra entender coisas fáceis.
Todos querem ser radicais, to cansada....
Me dêem uma dose e coloquem um disco do Blondie pra tocar.


(Texto do dia 06.11.10. Foto arq. pessoal. Texto postado tmbm em http://posalcool.blogspot.com/ segundo blog que escrevo, esse junto com uma amiga)

Boas recordações da Mazza

Numa destas salas vazias. Vazias não, estão ocupadas por dúzias de cadeiras escuras estofadas, livros de poesias, estão sós entre si.
A janela grande chega no chão, o assoalho de madeira me engana -não deve ser o mesmo desde a construção do prédio (?)- parece ter a idade da casa porém, bem conservado por reformas.
Dentro destas paredes amarelas, antiga escola (prédio de 1912, tombado como patrimônio histórico em 88) hoje uma das mais importantes casas que preparam artistas da Zona Leste de Sampa ( talvez até mesmo de toda Sampa ). Amácio Mazzaropi.
Paro encantada todo fim de tarde num dos corredores lá de cima. Olho o céu escurecendo, a noite cai fria e bela.
Lugar histórico.



(Texto do dia 19/05/10 num fim de tarde na Mazza, numa das aulas de fotografia de palco. Foto minha na performance da Xica Lima no dia 26/05/10 pra mesma oficina.)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Esperar

Não, não era você com dores, não poderia ser?
Mas sim, era madrugada?
Era noite? O que era senão dor?
Te dão de graça ódio como lembrança.
Te deixam sem reação, do avesso.
Levam seu pouco.
Levam seu muito.
Seu valor.
Seu único lugar.
E não pedem desculpas.
E certamente seria terrível pedir desculpas.
Porque sangrar mancha.
Marca a pele por horas.
Mas você ainda do seu tamanho vê.
E medita em silencio.
Talvez um livro como companhia.
Talvez uma garota de cabelos longos.
Talvez simplesmente alguém em quem pode confiar de olhos fechados
Do seu lado.
Do lado certo na horas mais improváveis.
Ela me parece com flocos de neve.
Posada no parapeito de alguma janela com um cigarro na metade.
Você volta numa hora da qual não perceberei.
Vejo pouco de longe.
Você sempre vejo.
E não levaram oque você significa
E foi a melhor noticia.
E ver esses olhos e ouvir essa música.
Nada grita mais hoje.
Silencio.
Espera.


(Sem explicações maiores. Foto arq. pessoal.)