terça-feira, 2 de novembro de 2010


 Torto, escrever é sacrifício válido num momento em que as bocas congelam, escrevo para sarar as bocas que silenciam e machucam-se por não saber como dizer qualquer coisa melhor ou pior ou qualquer coisa que seja, e não sei escrever, não sei com escrever pro outro do meu lado com a boca aberta fria e solitária, não sei como escrever pras crianças ou pras senhoras com seus pés velhos e rachados, não sei como escrever pros velhos barrigudos e cansados deitados em suas camas de colchões velhos e finos, não sei como, mas escrevo, é uma doença ou um vírus, entra na corrente sanguínea e vai se espalhando, tomando conta dos dedos e depois das mãos e depois do corpo todo e nem preciso dizer da mente que vai pra longe ou pra perto, depende do que bebi antes, sempre flutua pra um espaço estreito que não posso me enfiar sem raspar os braços ou sem cortar os joelhos, sempre dói, sempre caminha pro desconhecido com as luzes cintilando sobre coisas que ainda não sei o nome mas é por pouco tempo, descubro o nome das coisas que desejo ter controle, apenas desejo ter, sei que a maioria delas não posso ter controle nenhum, é estúpido acreditar que se pode controlar a vida ou algo que esteja aqui, nada é meu senão por um tempo determinadoseiláporquem.
 Sugo o mundo.

(foto minha)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010


Quero um copo,
um corpo
um vento
um voto 
um pote
um monte de você 
enroscado nas pernas
na persiana
da janela da sala
e o chão
piso frio
piso no frio, o horário de verão
as tarde maiores
os dias mais bonitos
quero muito
uma música
uma roupa velha
vestir as portas
transportá-las
levar a saudade
lamber o ócio
distrair o amor
morrer de sono
e devorar sem dó
teu coração 
vazio e sem sabor.


           (Voltando com novo blog, sem muitas explicações. Foto visão da minha janela do quarto.)