quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Caverna



Saia da caverna
Lá fora as sombras serão do teu corpo se jogando na vida.

Saia da caverna.

Essas sombras não dizem a verdade de nada.



(imagem arquivo pessoal)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Bom dia


Junto com uns cílios
um vício,
fumaça sobe quente.
Aperto a mão
não dói,
de manhã não é algodão-
tua pele,
despudoradamente despida
livre de tecidos...
Edredom, travesseiro, bafo
funcionam como Bom dia,
e junto com teus dedos
um presente dúbio,
mar hesitante
tráfego de caos,
permita usar a borracha,
apagar parte do mundo
transfigurar.

Junto com os cabelos
uns sorrisos ancestrais
que disparam questões
e palavras que vieram
de tempos remotos
como um vulcão.

 Dorme amor.
Acorda amor.

(foto cel.)

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sem som


Oque eu sei sobre cinema? Sei nada...
Me passa por favor a garrafa
deixa eu trazer pra dentro esse gole
cortar o corpo
num improviso de noite,
é uma vida cheia de adeus, cheia de trabalho
na parte da manhã,
cheia de ar...
Quando o som alto não me deixa te ouvir eu nem ligo.
Por que me importaria com tua voz
quando meus dentes te mastigam enquanto todos te dão atenção demais
muitas mãos, muito cuidado...?

Bobagens que eu não gravo.


(foto Paranapiacaba com Zenit)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Desejo


Não posso te desejar de outra forma senão assim, escorregando em mim, nenhum volante redirecionando o tempo todo. é desconfortável minha companhia, meu silencio, meu desapego, não posso te desejar de outra forma senão assim, peito, pernas, cabelos, cílios, não posso te desejar de outro jeito, só assim, louca e afoitamente.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

De ferir




E o esquema é ficar o dia todo vendo filmes
admirando silêncios e dedilhando canções sem ritmo 
sim, eu não tenho ritmo
nem sei dançar como ela sabe...

É um pouco de se perder
armada de unhas e dentes
ferindo partes delicadas.

No fim somos iguais.



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Uma Severina entre tantas



Muitas Severinas nas portas de suas casas de barro
Lavram, lavam, criam sem saber o significado da palavra perspectiva
Ardem no céu claro com sua pele queimada nesse sol
que castiga
Filhos de barrigas grandes
pernas magras, pés descalços acostumados ao chão batido,
uma infância que parece boa até a segunda página
quando lhe falta no estomago
quando lhe falta nos braços uns cadernos e lápis
quando lhe falta no corpo a imagem da criança...
Severina não mastiga muito, faltam dentes
faltam alimentos,
e sua barriga vazia guarda abaixo no útero ocupado
um filho na metade
pequeno como todos quando estão ainda lá
mas diferente num ponto: falta-lhe o cérebro.
E Severina analfabeta sertaneja
já tem filhos para cuidar, para levar consigo até onde a vida puder chegar
espera decisões que não lhe cabe tomar sozinha
porque sua palavras não podem ser as que devem ser ouvidas e levadas a sério primeiro,
antes disso tem as leis, o Governo e a burocracia...
Severina mulher nova, rosto antigo, deseja interromper essa história, uma tragédia anunciada que ninguém quer saber como vai acabar
mesmo sabendo que sempre acaba com morte
começa com morte
Bebe natimorto.
E no caminho da maternidade Severina não vê saída
 está lá, umas mãos a ajudam
mas ela quer logo sair
voltar pra casa, sua realidade que é assaltada por um período curto/longo
de 8 meses
que sabe, não vai dar em nada.

Severina quadril expandindo
Severina doendo
Severina não pensando

E silêncio.
Severina sabe o que vem depois.

Silêncio.

Severina lembra do berço que não comprou
e que não precisaria
das roupinhas que não pode comprar
porque ninguém usaria

Partida, partida.
Pariu uma morte que não deseja ver
Pariu uma morte que sabia ser inevitável
Pariu o silêncio
e todos aplaudem
Todos aplaudem.

Severina no lugar de berço deu caixão
Severina no lugar dela não tem escolha senão seguir
não teve escolha senão parir
não tem escolha senão obedecer.






quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ir, voar...




Vou voando
uma garota voando
deve ser louca
deve ter muito
mas que nada,
nada além do que está,
voando é passarinha
beijando as flores
amando quem nunca se dispõem
e rompendo com eles, com elas. 
Abram as janelas
uma garota voando
liberta ainda que tarde
devolvendo os abraços
deixando um perfume
um brilho, um sonho de ser
e ser.


                                               
                           (Pras meninas que voam e pras que ainda vão voar!)

Foto Lomo da minha janela.